A chuva caía persistentemente na rua. Ensopava as pessoas, percorrendo camadas de tecido até ao coração, causando aquela sensação desconfortável.
Era apenas mais um dia, mais um dia que tínhamos de viver.
As pessoas percorriam as ruas na azáfama das compras de natal, como insectos executando uma tarefa que foram programados para fazer, como se apenas tivessem nascido para fazer aquilo. Quantas daquelas pessoas poderiam dizer que estavam a viver verdadeiramente? Perdidas nos seus afazeres, anestesiadas pelo frio que se fazia sentir. Era como uma ilusão colectiva em que tudo se dissolvia no cinzento do céu.
Julgavam-se felizes, ou talvez enganavam-se.
Perturbado por este sentir rumou a casa na busca de conforto e de calor. Na ânsia do seu corpo desejado.
Não estava, o apartamento estava vazio, apenas aquela sensação de ausência.
O frio continuava a penetrar no seu corpo até aos seus ossos, cortante como metal. Sentia-se cansado, sentia a velocidade vertiginosa da sua vida desvanecer. Nos seus poucos anos viveu intensamente, apaixonadamente consumindo-se na chama das suas paixões. "Consumimo-nos nas paixões que nos consomem", alguém disse, embora não soubesse exactamente quem.
Agora a velocidade abrandara até à estagnação asfixiante, até ao estado de dormência em que vivia. Não sabia quanto tempo podia aguentar, mas sabia que tinha de continuar.
Pensava na sua vida ao fumar um cigarro – Este sou eu, mas podia ser qualquer um.
2 comentários:
Num Universo individualista como aquele em que vivemos mecanicamente, sem olhar para o lado...todos podemos ser mais um "qualquer um".
O frio e a chuva instala-se em nós e nem sequer nos damos conta que esse frio somos nós mesmos...
É assim no Natal...é assim todos os dias.
...e parafraseando Pedro Paixão: Viver todos os dias cansa...
Obrigado pelo comentário.
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