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segunda-feira, setembro 19, 2011

16/09/2011


Mais uma vez de volta ao lugar do crime. Após anos regresso ao bar que me acolheu durante uma temporada de cura, Tardes bem pensadas a tentar escrever, a tentar encontrar-me nas linhas que escrevia. Olhando para trás nada disso interessa, nada do que foi escrito tem realmente significado, o que na altura parecia razão absoluta, não é mais nada do que pompa e circunstancia. Não quer dizer que não sentia, que era menos verdade, as linhas  marcaram e eram vero, no entanto olho agora com uma certa distancia, com um olhar irónico para tamanha inocência. 
Continuo a transcreve-los de forma a não os perder, muitas vezes não percebo a minha própria letra, palavras aqui a ali são ambíguas e por vezes trechos inteiros de frases perdem-se num borrão de tinta.

Por aqui pouco mudou, um pormenor ou outro da decoração, as fotos agora por detrás do bar invocam pin-ups e tempos veraneantes mais felizes. A matrona continua na sua moldura a guardar a boa sorte do bar nestes tempos difíceis. É bom estar de regresso aqui, uma sensação acolhedora.O cão continua a guardar as bebidas na prateleira da das bebidas, vamos chama-lhe Oscar. Ai está ele com pose desafiante a mirar os transeuntes que passam na rua, impávido e sereno à temperatura tórrida que se faz sentir, à humidade que se cola à pele.
A esta hora da tarde o bar tem pouco movimento, os poucos clientes encontram-se na esplanada a ler as suas revistas e jornais.
"Don't it all seems to go / you don't know what you got 'till is gone" numa remix circular RnB do Big Yellow Taxi da grande Joni.
O verão parece querer ficar mais um pouco connosco mas os dias continuam a encurtarem-se e em breve teremos uma nova estação.
O calor continua a apertar e peço outra imperial, existe ainda algum tempo a matar e vamos tentar fugir ao cansaço, é tempo de folga, tempo de gozar a vida e o bom tempo, a brisa do rio que nos surpreende de tempos a tempos. A confusão continua a invadir os nossos sentidos, o ruído e a sujidade, a cegueira das massas desgovernadas orientando o melhor que podem as suas vidas nos seus afazeres quotidianos, a falta de tempo, toda a gente tem pressa, toda a gente na cidade vive no espaço atrasado da existência.

Novas pessoas aparecem na nossa vida, por vezes não temos capacidade de apreciar essas bênçãos, por vezes não percebemos na altura o lugar que ocupam na nossa vida, por vezes procuramos preencher com elas o espaço que nos falta dentro de nós para depois descobrir que as peças não cabem, falta pedaços nelas outras estão a mais. A remodelação interna leva o seu tempo e existem sempre surpresas onde nunca se pensavam existir.Existem correntes profundas e nem sempre é fácil de navegar neste mar.
Agora passa a banda sonora da Amélie Poulain, sabe bem, sabe a doces refrescantes, luminosos de verão.
Mais uma imperial, está aqui é para o Oscar!

A cidade durante as ferias respira melhor, e tem um encanto especial nas zonas mais pacatas, o tempo passa guloso cheio de sensações, cores, sons e cheiros. As ruas e prédios expandem-se ao sol, contraindo-se à noite para os deixar mais acolhedores.
O Yann Tiersen martela agora uma maquina de escrever enquanto eu o acompanho ao teclado do portátil. 
A senhora do bar corta limões para as bebidas nocturnas e o seu aroma chega aqui, isto é perfeito.
Encontro-me perto da felicidade, bastante perto, isso assusta, não sei os limites e procuro sempre mais, é um precipício que facilmente atravesso para depois cair, sempre o medo da queda e o desconhecimento dos meus limites.
Clientes assíduos, curiosos e turista parecem agora afluir, está mais fresco na rua e o tempo parece abrandar até ao pôr do sol. Figuras familiares destas ruas aparecem aqui e ali e é bom reconhecer caras familiares. A musica soa agora mais alto de forma a atrair os clientes e a velocidade vertiginosa da noite começa a acelerar até o sol subir novamente no horizonte, para voltar a seguir o seu arco pachorrentamente.
Bebo agora um café para cortar o efeito do álcool, depois é passear e jantar e saber o que a noite vai trazer, mas sempre na espera do que ainda me aguarda na minha vda. Espectativa e esperança, não existe felicidade absoluta, mas podemos andar momentaneamente bastante perto.

quinta-feira, setembro 08, 2011

Cotão


Os pensamentos não vêm coerentes a estas horas da manhã mas uma coisa é certa, existe por aqui uma paz de espírito que à muito não tinha, uma calma vinda talvez de uma maneira diferente de ver as coisas, onde alguma coisa é capaz de fazer algum sentido. As grandes mudanças não vêm de um momento para outro, são construídas a partir de constantes e duradouras revoluções, resilientes em deixar marca pelo nosso corpo e mente.
Talvez a maturidade trás destas coisas, como a constante presença do mar, como aceitar a misteriosa presença de uma estrela cadente que marca o céu para logo se desvanecer, como a pureza prateada dos cabelos brancos.
Os dias passam apressados numa vida preenchida e o cansaço por vezes marca as feições, na duvida da diferença entre o viver e existir, entre o ser ou estar. Cada vez mais o tempo passa a correr e como ele foge, dispersa-se por pequenas coisas insignificantes que se acumulam e nos roubam a atenção, como o cotão nas esquinas das casas. 

sábado, julho 09, 2011


Existe uma estrada junto ao mar que segue em direcção a sul. Sempre junto à orla costeira, num azul infinito e o cheiro a maresia. Existem canaviais que despontam junto ao mar de chorões, existem floreamentos rochosos esculpidos pela força bruta do tempo e do mar. Existe poeira fina que se cola aos ossos no percurso de tabuinhas pelo areal abrasador.

Existe uma inocência perdida algures na infância nestes dias de verão, na ociosidade desses momentos. Um cheiro guloso tropical colado à pele das pessoas. Existe o marulhar das ondas que embalam como bebés. Existe um sol calcinante que marca a pele como souvenir para tempos mais frios. Existe um mar de pegadas sem destino aparente e o grito cristalino das crianças ao fundo. Existe a languidez liquida do barulho do mar a bater nos cascos dos navios aportados, os reflexos marítimos na nossa cara fazendo-nos chorar Nada acontece, tudo existe e isso é paz.



quarta-feira, junho 29, 2011

No voo de regresso

E agora escrever, escrever no avião à espera que o cansaço ou a droga faça efeito e a sua voz comece a soar. Apenas sente-se mais mole, e costuma estar bem atento ao que se passa, mas logo de seguida as frases da sua cabeça perdem o sentido e apenas deseja descrever com rapidez as coisas que quer escrever, sem filtros, muito difícil, só momentos em momentos, isto não é escrita automática, é uma escrita adaptativa que vai levar o modelo de acordo com as especificidade mais eso-técnicas, de forma a implementar o programa estipulado, questionando os seus cobardes tormentos esta maquina homem, perde agora tempo a escrever martelando os dedos no teclado, sem filtros, maquina automática, uma pausa para rever o que se engajou, procura não fasear isso, escrever apenas o seu processo de criação metalúrgica, siderúrgica mental pelas vicissitudes dos seus escombros e o falatório da companhia para andar, neste caminho triste que pode ser a vida saem rés, solou muito alto e fora de tempo e por vezes apanhou escaldões, pois não mete filtros entre ele e a unidade, por outro lado sabe que não vê as coisas como olha, como os restares olham e como a realidade ( é, - difícil demais de assimilar que tal cortar e colar pequenos pedaços brilhantes da realidade. É muito difícil viver, porque não comprar xampa, promoção válida até trinta de dezembro não acumuláveis com outras promoções a ocorrer na sua vida. Consultar o seu medico: como quando me saiu na rifa um coração quebrado, à medida que ia raspando os três quadradinhos, e depois das três vezes tentadas (nem uma cereja), ficar com o prémio de consolação. A ironia de ser ele próprio a engelhar o coração de quem não merece que lhe façam isso. Mas como bom jogador que é há muito apostou a sua sanidade mental, que é como quem diz, culpa não puxa carroça, que se por vezes é fácil outros dias é tão difícil como chegar a ser completamente voador. E escreve, escrever o inusitado e o abstracto , o reflexo e o inatingível, com a velocidade cruzeiro de quem vai muito drepressinha, com a sensibilidade de uma cascavel ao sol com a bunda a rebolar, talvez consiga dormir em breve e acordar em algo que se possa chamar casa, sim talvez isso, um sitio para descansar que é seu, talvez quando chegar ao aeroporto as malas estejam lá, talvez seja isso, talvez não, talvez descobri que afinal não tenho jeito. É apenas mais uma daquelas coisas que tento fazer porque na minha cabeça acho que sou bom a frasear ou que tenho algo a dizer, acontece, que não tenho, tudo o que tinha esvaziou-se de mim no dia do jackpot, e perdi,
Falta o álcool, para entorpecer a cabeçada que se protege dos meus dedos que procuram abrir a cabeça com os meus miolos palitar aqui a minha obra, álcool podia potencializar o efeito, vou tentar dormir.
Um redondo silencio,
Ôi, como vai você?

sábado, janeiro 29, 2011

NY - um regresso

Pelos vistos as drogas não tiveram sucesso, no momento de regresso assoma-me uma energia vinda sabe-se lá de onde para me manter acordado.

Talvez tenha sido o efeito do vinho nos comprimidos, que me provoca o brilho maníaco no olhar. Falta pouco para chegar, conto beber café, distribuir as oferendas, fumar uns cigarros e regressar para casa. Sim talvez casa, talvez cada vez mais casa, como se só depois de todos os lugares que conheci e vivi pudesse chamar casa ao lugar onde vivo. Sem duvida que estou cansado mas já passei por coisas piores, outros cansaços e sofrimentos, na minha cabeça são este cansaço, este sofrimento medida da vida, não me recordo desde quando sinto isso, mas tenho presente em mim desde muito cedo. Talvez não tenha sido uma criança feliz, mas quem o foi?

Regresso de umas ferias completamente inconsequentes, em que vivi como um rei, em sintonia com aquela cidade, aquele fluxo de energia. Umas ferias que me senti só e sozinho, feliz e emocionado, bêbado e lesionado.

Parte do interesse em viajar resulta do desconhecimento, do mistério, do potencial, quantas vezes me dou a pensar como seria a minha vida aqui, ou então algum episódio que só poderia acontecer ali, o que não é realmente verdade mas que de facto assim acontece. Provavelmente prende-se com o facto que podemos ser quem quisermos, podemos fugir de nós e construir um novo das peças e partes amolgadas. Mesmo que não aconteça nada existe sempre o potencial para tal acontecer e isso torna o nosso estado de espirito aberto ao mundo, ao contrario da nossa mundana vivência.

Das pessoas que conheci por lá gostaria de ter desenvolvido mais o relacionamento, ter tempo para investir nisso, doar algo de mim e não ser apenas um buraco negro que tudo absorve, com a sua curiosidade, sentidos e emoção.

Coney Island é um local muito especial, luminoso, para mim. Consegui sentir-me feliz, sozinho, confortável, agradecido, triste, em paz. É um local bem especial que não sei descrever bem, não sei se é por estar no outro lado do atlântico a olhar para casa, como se o efeito de perspectiva muda-se alguma coisa.

Regresso agora completamente cansado com os olhos vermelhos de secura do ambiente reciclado da cabine do avião, volto para mais um regresso, um pouco diferente do que quando parti.

Estamos neste momento a sobrevoar os Azores, faltam duas horas até Lisboa, são 22h30 em NY e estamos a 5802 km do polo Norte com uma velocidade de 998 km/h. Com um vento da cauda de 169 km/h.

Por cima da camada leitosa das nuvens e do avançado das horas a presença amigável da lua prenha e das estrelas tornam o ambiente acolhedor, pela imutável e misteriosa presença.

segunda-feira, janeiro 24, 2011

Outra vez aqui

O tempo abranda e perpetua-se neste espaço, neste lugar preciso em que tudo é calma. Mais um inverno, fecha-se novamente um ciclo e encontramos-nos no mesmo lugar, pouco mudou, interiormente. Claro que estamos mais velhos o tempo é inexorável e nem sempre bondoso, mas interiormente aprisiona-nos a nós próprios.

O tempo porventura como a coisa mais importante, como medida da existência, um dia estou aqui no momento a seguir posso deixar de estar, como um dia estas aqui e no outro deixas de estar. Tempo sem recordação, cada momento um novo, a bênção dos estúpidos que não aprendem, dos heróis que vivem a vida no momento.

O ciclo das aves migratórias

engravado na sua existência, no nosso ADN. O ciclo das nossas vidas em esferas concêntricas que nunca se chegam a tocar, a gravidade deste sistema e no centro o quê? Vazio?, Amor? Não sei, nunca fui bom a

constatar os factos no momento que os sinto, limito-me a cumprir com a sua força,

massa e inércia, num sistema de acção-reacção. Mas se tudo fosse tão simples quanto

isso, a física clássica ficou aquém, agora sou eu mas também sou o universo e vice-versa,

agora estou aqui mas parte de mim também está em todo o lado. Pudesse eu

multiplicar-me em cada escolha tomada, em cada possibilidade. Sonhar a viver cada

uma delas. Agora tudo é mais confuso mais imaterial na velocidade dos dias que

passam e das noites que passo sem dormir.

O tempo frio regressa, cristalino belo e puro na noite escura. A gotas de chuva nos

vidros das janelas reflectem luzes distantes e o tempo tarda a passar, a dolência e o

torpor nos dedos e no pensamento. Nem neste tempo de beleza cortante consigo-me

manter terra a terra e a clareza cristalina só aparece de tempos a tempos. Penso em

viagens, em fugas absurdas para poder aportar em mim e no que em mim é

verdadeiro.

Os dias que passo sem sentir, na falta de fé, nas amarras que prendo a

mim mesmo no lastro que deixam em meu redor.

Busco uma voz que nem sempre está presente, um tom verdadeiro e um fio

orientador neste labirinto. Procuro ser o criador sem ser o artista, a luz, a intensidade

e a verdade no meio da escuridão que tanto preso e crio em meu redor, um jogo de

sombras chinesas para me entreter.

terça-feira, outubro 27, 2009

O filho do homem que nunca foi pai jaz nu no asfalto de costas no chão quando começa a chover.
No fim da noite. Há uma mulher que ama o seu homem como um filho e só mais tarde aprendeu a ser mãe. Antes deles existem pais de pais de papel que nunca deixaram de o ser. Cheira a sangue na sua boca ao acordar, e a alcatrão nas suas mãos. Tirando a chuva tudo sossega. Há o nada e o desequilíbrio, a vertigem da queda do arame lá alto. A carência e o desejar. O corpo no chão. - O que falta aqui?
Os grandes insights chegam sempre a altas horas da noite, quando a chuva é mais intensa e os pássaros não vêm acordar a manhã. - O que falta aqui?

O vazio que resta é o que sobra aqui.

terça-feira, julho 28, 2009

sábado, junho 20, 2009

Este retrato não há-de ser só teu - mas eu sou único


Esboço


Tem nome de gueixa ocidental e a sua pele é de uma pureza leitosa ou em meses solares

da doçura do mel. Porte imponente, esguio e majestoso. Nos olhos ternos em avelãs turva

de tempos a tempos a baça melancolia, um vazio interior. Nas manhãs que a névoa levanta

dois brilhantes sois irradiavam enquadrados pelas covas da sua face e pelo calor do seu

sorriso incondicional.

O seu cabelo é liso, suave como a seda, brilhante como o cetim. Possuem a sua força própria

brincando ao sol com o vento , jovialmente enredando-se na barba do seu amado.

Debaixo da sua pele macia existem ossos de aço frio, duros de quem já levou muita pancada,

frágeis e leves. O seu tronco serve de medida perfeita ao peito do seu companheiro, a

sua cintura fácil de abraçar. O bater de dois corações próximos. Feliz do homem que puder

percorrer o seu corpo em beijos apaixonados em percursos sempre novos e repousar da

viagem nos seus seios perfeitos. No seu pescoço perdem-se viajantes mais incautos naufragando

nos seus lóbulos perfeitos. Rumando a sul pela planície do seu ventre, chega-se à

orla marítima da sua púbis; momento magico em noites quentes, o orvalho que a brisa

marítima trás possui o cheiro a sândalo exótico e o sabor a especiarias orientais.

O seu cheiro é único, a sua essência é ela, facilmente identificável para os animais com cio,

para aprendizes do oficio em noites de lua cheia.

quinta-feira, abril 23, 2009

Savon

A caixa é rectangular e contem 3 sabonetes,

de cartão antigo, de dourados já idos, de uma

época faustosa.

No quarto encontra-se a penumbra, mas

a luz dourada filtrada pelas frescas da

portadas corta a escuridão em traços oblíquos,

marcando o chão de cerejeira. O cheiro a

cravos desprende-se da caixa assim que a

abres com entusiasmo infantil, uma folha

parda pelo passar do tempo envolve os 3

sabonetes, revestidos por papel ainda mais

delicado em pregas concêntricas, por

minucioso labor manual. Sabonetes de luxo.

OEillet Mignardise - Carnation

diz o rotulo em cada um. O cheiro a

cravo e a tempos passados transporta-nos para

uma Barcelona antiga, pelas casas do Passeio

de Gràcia, no nascer do século passado, ao fim

do dia. Perco-me aí de ti e dos meus

demónios, em bares nos quais absinto-me

estranho, junto a boémios, poetas e

vagabundos.


A realidade roda agora um angulo de 90º e

os nossos corpos como fantoches são

atirados contra a parede, repousando

depois no chão.

(...)

Cheira a cravos bravios ou mesmo daqueles

azuis mais raros, cheira a mandarina na

mesa numa manhã de fim de semana.

Imitadora da tua preciosa anatomia com os

seus sucos a escorrer pelos meus dedos.

Cheira a sexo e a café forte que sobe à

cabeça. Cheira ao grasnar das aves de

rapina à solta no ar, a maresia que a

corrente profunda trás ao destruir

barragens dentro de ti.

Neste momento tudo é estático e só

existem as sensações. O tempo parou, ele

não existe. Consegue-se ouvir o pó no ar a

brincar com a frescas de luz e a cair no

chão.

[pausa ao som dos corações

descompassados]

(...)

Agora os corpos encontram-se sem

vida no chão como marionetas do inicio.

Pérolas de luz escorrem

pelas tuas pernas e eu choro também.

É certo que nunca gostei muito do

cheiro a cravo.

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Grey (tríptico)


"the sky is grey, the sand is grey, and the ocean is grey. i feel right at

home in this stunning monochrome, alone in my way. i smoke and i drink and

every time i blink i have a tiny dream. but as bad as i am i'm proud of the

fact that i'm worse than i seem. what kind of paradise am i looking for? i've

got everything i want and still i want more. maybe some tiny shiny thing will

wash up on the shore. you walk through my walls like a ghost on tv. 


 and what can i say but i'm wired this way and you're wired to me, and

what can i do but wallow in you unintentionally? what kind of paradise am i

looking for? i've got everything i want and still i want more. maybe some tiny

shiny key will wash up on the shore. regretfully, i guess i've got three

simple things to say. why me? why this now? why this way? overtone's ringing,

undertow's pulling away under a sky that is grey on sand that is grey by an

ocean that's grey. what kind of paradise am i looking for? i've got everything

i want and still i want more. maybe some tiny shiny key will wash up on the

shore."


Ani diFranco, Grey 



O ceu é cinzento, a areia é cinzenta, e o oceano é cinzento; no entanto percorro este areal em direcção ao sol que não está. Os meus pés descalços não sentem frio, não sentem a textura da areia, as pegadas pelo mar apagadas. A chuva realmente não me molha. Quedo-me imóvel à beira mar, deixo as bolhas de ar que o mar traz brincarem, rebentarem a meus pés. Imóvel e a brisa marítima passa por mim, invisível. Tardo um instante, tardo apenas um momento. O grasnar ácido das gaivotas perde-se no fundo, (como o fumo do cigarro), um sino a ressoar. Ao longe, ligeiramente à direita os barcos de cores garridas mantêm-se à tona da água, linha que separa dos mistérios líquidos e do som grave das profundezas. Quantos tesouros brilhantes este mar abraça e quantos deles darão à costa? Quedo-me imóvel à beira mar, um momento, apenas um instante.

terça-feira, agosto 26, 2008

Labirinto

O cursor pisca no écran branco, à espera que a pagina se encha de pensamentos,

só pensa em manter o tom, se conseguir manter o tom conseguirá a proeza de ver as suas ideias crescerem, materializarem-se. A insónia invade mais uma vez o espaço. Escrever e voltar a apagar, mas escrever. Tentar sair da sua cabeça, fugir à vida que se lhe escapa, quebrar o labirinto.



Os raios de sol do final da tarde iluminam a Praça de Camões em toda a sua gloria. Ainda que inexoráveis as acidentadas ruas do bairro fervilham de gente a essa hora e a mistura de pessoas é notável. Turistas parecem encantados com a luz e com a companhia silenciosa de Pessoa. Pombos ora voam em debandada ora pavoneiam-se engalanados de peito inchado cortejando as suas fêmeas. Não muito diferente da fauna natural da zona; Aprendizes do oficio, os artistas competem no estilo para melhor mostrarem a sua expressão, artística. Outros marinheiros navegam nestas turvas águas em busca de amores efémeros.



Mais um cigarro, mais uma fila de pensamentos. O céu aos poucos vai-se tornando leitoso. O tempo urge.

O café quente na chávena aquece as suas mãos. É a altura do dia que as matutinas aves se elevam aos céus anunciando um novo dia.



Calcorreia as íngremes ruas com um sentido de urgência, com uma ânsia não especifica. Um desejo premente em ir e uma certa repulsa. Tem ainda tempo para se dirigir ao café de bairro que começou a frequentar desde o começo destes encontros. Lá entra na realidade mundana das personagens de bairro, os seus amores, ódios, segredos e paixões. Já se pode dizer que se tornou amigo da dona, amiga dos seus amigos e mais dos que a ouvem. Lá está ele a olhar para ela, umas vezes a tentar perceber o que diz quando fala em surdina do cliente satisfeito que acabou de sair, a maioria das vezes completamente a leste, acenando de tempo a tempo a cabeça para não desfraldar as expectativas do orador.



Agora o dia desprende em bandeiras os seus dourado e rosas. O sol ainda voga baixo no Tejo. Algumas pessoas desprendem-se agora dos braços de sono, dos braços dos seus amores ou da sua ausência. Um novo dia começa.



Fuma um ultimo cigarro antes de ir. Pontualmente toca à campainha de um velho prédio. Um toque apenas mascara a ânsia que sente. Pensa no tempo que demora a responder, o tempo que o faz esperar, o jogo começou. Recebe-o à porta fechando a porta à sua passagem. Tudo naquele apartamento lhe recorda o seu antigo apartamento, o cheiro, a textura das tábuas de madeira sobre os seus pês, a própria estrutura do apartamento. Ainda junto à porta observa-o enquanto ele na sala junto à porta se despe colocando-se mais confortável. Todo este ritual foi adquirido implicitamente no primeiro encontro quando a sua mente percorria paisagens bem mais sombrias.


Ainda em queda livre.

quinta-feira, agosto 14, 2008

quarta-feira, agosto 13, 2008

Alice et Martin

Ele disse: 
"Até qualquer dia"
Foi isso que o filho da puta disse.
O que mais custa é que não é isso que realmente sentia

(about "killing your parents and taking drugs, not necessarily in that order") S.P.

Je pas fou

segunda-feira, julho 28, 2008

O estado da coisa

A quem possa interessar e a quem "give a fuck about it".

Nas vésperas de fazer 29 anos procuro no artificio das palavras fazer um balanço da minha vida, um estado da coisa e tal.
Como preâmbulo manifesto desde já que os últimos tempos não tem sido nada fáceis para mim. Acontecimento realmente significativos e com grande peso em mim desencadearam-se uns a seguir aos outros como um grande castelo de cartas a ruir, sem grande possibilidade de intervenção da minha parte. Não é estranho como tudo parece suceder ao mesmo tempo?
O mais estranho é que pareceu surgir em mim uma sensação bastante visceral, uma premunição de alguma espécie de que algo estava para acontecer. Não acredito em nada de paranormal mas está sensação latente deixou-me bastante vezes sem dormir, sem algo de concreto a que pudesse agarrar, ou fazer.

Pois bem, o aspecto mais positivo de toda esta experiência de vida é que me encontro agora com um melhor conhecimento de mim próprio, dos meus limites, das minha fronteiras, de quem sou. Aprender a saber perder talvez necessite de mil vezes mais coragem do que lutar.

O desejo, esse motor de todo nós. Talvez (re)aprendi a desejar ser desejado, a desejar desejar, mais do tudo, por outro lado não fugir ao jugo do desejo por aniquilação do eu desejante.

Por mais estranho que pareça encontro-me agora como à cerca de uma década atrás, não é fácil explicar com precisão a sensação. Como se esta década me tivesse dado experiência, conhecimento de mim próprio e me coloca-se à uma década atrás. Ok, pensa no que aprendestes e recomeça a partir dai. Um "strange attractor".

Como tudo nesta vida, esta década foi agridoce, cheia de desejo e perda, muito dos dois.
Com este post não pretendo filosofar sobre o sentido da vida nem entrar por pseudo-psicologias baratas. Nem sei porque o escrevo, por mim sem duvido, uma espécie de por a casa em ordem.

Sou diferente e sou agora o puto de 18 anos, cheio de desejo e inocência com uma bagagem bem maior de truques para fintar as vicissitudes da vida. Nos momentos mais negros o que me assustava perder, além da vida, era essa inocência e essa força, algo de muito forte, muito puro e luminoso que ainda encontro presente em mim, uma rocha vinda sabe-se lá de onde. Descobrir isso ainda em mim foi o melhor presente. De sempre.

Venham mais 10.

sábado, abril 26, 2008

Imagem mental:

Hoje acordei com vontade de te comer toda. A começar pelos teus dentínhos.

sábado, março 22, 2008

Eu um dia escrevi isto:

(...)
Se alguma coisa te parece estranha pensa no que Pancho disse ao Cisco Kid: “Vamos embora antes que acabemos a dançar sem música no fim da corda”.

Genial, não?

sexta-feira, março 21, 2008

Hierocosfinge

Os barcos sulcam as noites brancas com precisão cristalina, o sono passa do meu umbigo para o meu dedo do pé enquanto os pássaros chilreiam uma lenta madrugada. Na opressão de um quarto escuro demais ergo pontes e visões que me ligam ao Tejo. Vejo o trafego nas vias e consigo precisar com exactidão microscópica a vida desses seres de luz, cruzando o azul veludo. Tudo é estático e vazio, até o cotão que invade o dia cessa de existir nestes momentos. Todos os sentidos se agudizam na preparação da obra mental a erguer. Formiga obreira labuto e perco-me em construções dignas da era das maravilhas, em labirintos mitológicos guiado pelo ténue fio de luz. Babilónia do que virá e escombros do passado. Represento papeis, mil vezes representados, é a trágico-comedia da humanidade.

- Olha Mamã! Olha a esfinge! Vê como sou esperto. Consegues ver? Consegues-me ver?

Com gesto de prestidigitação o suspense acaba deixando o corpo ao cansaço liquefeito de um novo dia, o gesto torna-se mecânico e a faísca por lá não habita. Observo a cama quente onde ainda estás, o sono dos justos dizem...

Anjo Negro

Voltámos-nos a encontrar no funeral do teu pai. Muitos anos haviam passado desde a ultima vez que te vi. O vestido preto pelo joelhos ficava-te bem apesar de realçar a tua figura magra. Eu de casaco e gravata preta. Tentavas esconder as tuas mãos nervosas por detrás do teu corpo. O dia cinzento adequava-se à ocasião, lembro-me de pensar como o campo relvado se encontrava brilhante. Levavas a cara branca como uma mascara com o teu cabelo solto brincando ao vento. Os teus olhos vazios, a única ocasião que os tinha visto assim foi quando te fodi quando amavas outro.

Aproximei-me de ti passando a fila de mulheres tagarelas que comentavam a meia voz frases feitas de ocasião. Houve um instante que não me reconheceste, a minha cara mais magra, as linhas à volta dos olhos, a minha barba de 3 dias por fazer, o meu cabelo despenteado, como se reconheces alguns traços mas não conseguisses ligar as peças. Levei-te pelo braço para longe dali, o teu corpo não resistiu. O vento roçou as nossas pernas e lembro de pensar como devias sentir frio. Olhaste para trás e larguei-te a mão, parámos. Voltei-me para ti quando levantaste os olhos do chão e olhaste para mim. Não devia estar ali e sabia que não devia estar ali, não era o meu lugar.

As palavras fugiram-me, não havia nada para dizer, não havia nada que pudesse dizer, nada que fizesse sentido. As lágrimas corriam agora pela minha cara enquanto te olhava suspenso e isso pareceu tardar uma eternidade. Levaste a tua mão direita à minha cara fria enquanto tentava mantê-la erguida. Agarrei a tua mão pelo pulso, fechei forte e beijei-a.

Mais forte que Orfeu consegui percorrer o caminho até o carro sem olhar para trás. Já no carro com o rosto ainda molhado pensei na falta de sentido da existência, ou melhor, o sentido da existência é apenas existir. Soube que não devia estar ali, que não estive ali e que nunca vou estar ali.

quinta-feira, dezembro 27, 2007

E o brinde?



Para sua segurança a fava foi retirada ao seu Natal.
Obrigado pela sua preferência e continuação de festas felizes.