domingo, maio 10, 2009

Depois disto para quê escrever

"Nesta noite onde a serenidade se esconde por de trás dos móveis e a inquietação dança por toda a casa, as duas nesta noite, a trocarem no meu corpo de segundo a segundo. As duas ausentes, invisíveis e perfurantes. Pontuais altivas penetrantes. O mistério que me arranca do sitio, à conquista de qualquer coisa que já devia ter mas que não chega.

Tudo se repete:
A manhã perfeita de magia e impossíveis cumplicidades todas a formarem uma enorme espera de sabão quase tão real… O percurso a crescer até chorar de emoção descontrolada, as razões, as motivações, tudo verdade, tudo. verdade. Não existe ninguém melhor que nós, não existe ninguém melhor que eu que nem existo até ser noite devagar.
Agora que acordei, parece tudo tão ridículo.
Agora que adormeço, tudo é tão maior que o universo inteiro em coro.
Agora que acordei, não há ninguém melhor que eu e é tudo tão efémero como chuva de verão, aquela que deixa o ar limpo.
Agora que acordo não amo, não sinto, desprezo e desdigo, deixo para trás quem já não sabe ler os sinais acordados. Desprendo, ignoro, sigo já o rumo à frente, sereno.
Sabemos as razões, sabemos as verdades e as mil mentiras, mas não resistimos às duvidas como portas entreabertas. A parte fraca não fecha portas sozinha.

A parte forte gosta de espreitar…
Hoje que adormeço, tão cansado… nesta passagem infinitamente entreaberta, sobre o teu olhar solto, inquieto, longe, inerte, à espreita… se não me lês, se não me ouves,
não existo."

Tiago Bettencourt

Quando alguém na sua escrita destila a nossa existência.


1 comentário: