terça-feira, outubro 27, 2009

O filho do homem que nunca foi pai jaz nu no asfalto de costas no chão quando começa a chover.
No fim da noite. Há uma mulher que ama o seu homem como um filho e só mais tarde aprendeu a ser mãe. Antes deles existem pais de pais de papel que nunca deixaram de o ser. Cheira a sangue na sua boca ao acordar, e a alcatrão nas suas mãos. Tirando a chuva tudo sossega. Há o nada e o desequilíbrio, a vertigem da queda do arame lá alto. A carência e o desejar. O corpo no chão. - O que falta aqui?
Os grandes insights chegam sempre a altas horas da noite, quando a chuva é mais intensa e os pássaros não vêm acordar a manhã. - O que falta aqui?

O vazio que resta é o que sobra aqui.

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