segunda-feira, janeiro 24, 2011

Outra vez aqui

O tempo abranda e perpetua-se neste espaço, neste lugar preciso em que tudo é calma. Mais um inverno, fecha-se novamente um ciclo e encontramos-nos no mesmo lugar, pouco mudou, interiormente. Claro que estamos mais velhos o tempo é inexorável e nem sempre bondoso, mas interiormente aprisiona-nos a nós próprios.

O tempo porventura como a coisa mais importante, como medida da existência, um dia estou aqui no momento a seguir posso deixar de estar, como um dia estas aqui e no outro deixas de estar. Tempo sem recordação, cada momento um novo, a bênção dos estúpidos que não aprendem, dos heróis que vivem a vida no momento.

O ciclo das aves migratórias

engravado na sua existência, no nosso ADN. O ciclo das nossas vidas em esferas concêntricas que nunca se chegam a tocar, a gravidade deste sistema e no centro o quê? Vazio?, Amor? Não sei, nunca fui bom a

constatar os factos no momento que os sinto, limito-me a cumprir com a sua força,

massa e inércia, num sistema de acção-reacção. Mas se tudo fosse tão simples quanto

isso, a física clássica ficou aquém, agora sou eu mas também sou o universo e vice-versa,

agora estou aqui mas parte de mim também está em todo o lado. Pudesse eu

multiplicar-me em cada escolha tomada, em cada possibilidade. Sonhar a viver cada

uma delas. Agora tudo é mais confuso mais imaterial na velocidade dos dias que

passam e das noites que passo sem dormir.

O tempo frio regressa, cristalino belo e puro na noite escura. A gotas de chuva nos

vidros das janelas reflectem luzes distantes e o tempo tarda a passar, a dolência e o

torpor nos dedos e no pensamento. Nem neste tempo de beleza cortante consigo-me

manter terra a terra e a clareza cristalina só aparece de tempos a tempos. Penso em

viagens, em fugas absurdas para poder aportar em mim e no que em mim é

verdadeiro.

Os dias que passo sem sentir, na falta de fé, nas amarras que prendo a

mim mesmo no lastro que deixam em meu redor.

Busco uma voz que nem sempre está presente, um tom verdadeiro e um fio

orientador neste labirinto. Procuro ser o criador sem ser o artista, a luz, a intensidade

e a verdade no meio da escuridão que tanto preso e crio em meu redor, um jogo de

sombras chinesas para me entreter.

Sem comentários: