A propósito de “Volver”
Até que ponto se pode regressar ao que se deixou, e quando se regressa, volve-se a quê?
Quando se parte, que parte de nós parte? Que pedaços ficaram para trás?
Será disso que depende o nosso regresso? Dos pedaços que deixamos ou não para trás. Será possível começar do zero num outro lugar? Não iram influir nesse começo os pedaços que guardamos, aqueles junto ao peito, aqueles mais difíceis de separar, aqueles que nos define.
Eu em Barcelona sou Português.
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A vila universitária de Barcelona é de betão rosa, de ângulos rectos e amplas janelas com cortinas amarelas. Ladeada de ciprestes e freixos. Os blocos baixos de apartamentos orientam-se voltados uns para os outros, permitindo um vislumbre da intimidade alheia.
Na vila existem muitos gatos, lembro particularmente bem um todo negro com o rabo cortado, figura familiar nas minhas outras estadias. Percorrem dolentemente os beirais das janelas em busca de comida e carrinho.
Sementes brancas caíram hoje copiosamente das árvores floridas em movimentos circulares como farrapos de algodão doce pela aragem.
Aqui o pôr-do-sol é espectacular e acolhedor.
Os domingos são passados (geralmente) a curar os excessos das noites passadas, tediosamente se lava a roupa numa muito americana lavandaria, hipnotizados pelo tambor da máquina e a fluorescência das luzes medita-se nas vicissitudes da vida.
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